quinta-feira, 31 de março de 2016

Te esqueci ?!

            Seria loucura dizer que te esqueci ?Mas se ainda escrevo não é por que me lembro ?


            Se eu realmente tivesse te esquecido não haveria tantos rabiscos em meus cadernos.Folhas e mais folhas com letras desenfreadas sobre tudo aquilo que sinto e sobre tudo aquilo que imagino sentir ... Se eu tivesse te esquecido não haveria texto algum.Nenhum poema, frase ou verso. Se eu realmente tivesse te esquecido não estaria escrevendo,nesse exato momento,tais palavras. 
            Só de pensar que te esqueci, eu já te lembro. Que irônico.Só de pensar por um momento que superei, é justamente onde estou fardada a lembrança. Eu sempre acreditei que esquecer é justamente não lembrar, com todo o pleonasmo merecido.Mas como mera mortal que sou, pouco te esqueço, muito te lembro.Me lembro que teu sorriso era calmaria, que seu cheiro me envaidecia, que seu humor me acalmava e ria.Me lembro que amava seu olhar, sua forma de falar e seu jeito confuso de pensar. Me lembro que eu apenas achava graça da sua falta de graça e ficava lá,te olhado com meus olhos gigantes. 
          Você era pra ser meu esquecimento moral , meu Alzheimer emocional, meu buraco negro cerebral. Porém você insisti em permanecer, como uma memória vívida, como algo intocável e inesquecível . E só de pensar que eu poderia não pensar em você, me vem a tristeza do pensamento impensado. Confuso não? Mas o que seria de você se não a confusão da minha vida, a perda e o ganho na mesma medida , a dor e a felicidade na mesma proporção?
           É, pois é. Não posso negar que só de lembrar que preciso te esquecer,  faz com que eu não te esqueça e de forma egoísta envaideça esse amor enfermo que tenho por você. Amor contraditório , colocado em purgatório, caçado e julgado na Santa Inquisição... 
Amor proibido, bandido, indevido , imerecido.... Amor tranquilo, desinibido e mal compreendido... 
          E mesmo assim, ando em círculos todas as vezes que procuro achar um motivo para tal ato. E chego sempre no mesmo lugar, de onde antes eu havia saído. E de todas as conclusões possíveis me  resta apenas uma: que é esse amor que me faz lembrar e que só não te esqueço por ainda te amar.

domingo, 6 de março de 2016

O que me tornei?

                 Em frente ao espelho me olho e reflito no que foi que me tornei... Com o tempo e com as mudanças fui perdendo o brilho que transbordava pelos meus olhos.Com o tempo e com os danos fui perdendo a vontade de me relacionar com quem seja... 
                 Perdi o entusiamo , a euforia, a vaidade e a vontade de ter vontade ... Perdi a vontade de demostrar a alegria, o contentamento. Tudo isso me foi roubado. Fui violada, me arrancaram o meu eu e nunca mais ninguém me olhou da mesma forma.Os Olhos de admiração, afeto, carinho  desapareceram dando lugar aos olhares pesados, corriqueiros e perdidos que hoje me cercam... Talvez, por algum descuido eu os tenha atraído. 
                Mas o que se pode  esperar de alguém que perdeu a vontade de ser ela mesma ? O que se esperar de alguém que abandonou a forma como gostava de ser para ser aquilo que nunca pensou ser? Perdi minha identidade, minha essência ,minha diferença. Me tornei qualquer coisa. Hoje sou comum ou ate mesmo nada. 
              Olhando ainda no espelho me procuro por todos os lados. Não sou mais radiante,fascinante. Nem posso mais me sentir assim... Francamente ,o que hoje em mim chamaria a atenção ? Não tenho mais atrativos de primeira visão e nenhum atrativo pós conhecimento... Dentro de mim também não se existe nada. Um vácuo enorme se formou e tomou conta de tudo e a matéria finita perdeu a força..
             Me arrasto literalmente para as obrigações diárias esperado pelo o dia que a rotina não me consuma, não me faça decompor. A beleza dos meus olhos, dos meus gestos, das minhas expressões foram tomados e hoje são todas automáticas, sem vida, sem vigor. Não sou mais o que fui um dia. Se me vêem, não me notam.Se me falam,não me escutam. Nunca saberão de fato o que um dia fui de verdade.
               Percebo, enfim,que me tornei um fruto da minha própria psicose...