domingo, 26 de dezembro de 2021

Imagine...

Acho que nunca disse isso, mas eu sempre quis morrer. 

Bom, não sempre. 

Quando se é criança, você quase não pensa nisso. A morte meio que te é negada. 

Os adultos fazem com que ela seja menos dolorosa e próxima do que realmente é. 

E como uma boa criança, eu gostava desses meus dias em que eu não sabia da existência dela.

Nessa época, tudo ainda era multicolorido. 

Minhas brincadeiras e mundos imaginários me carregavam e me enchiam de felicidade.

Foi aos nove anos, no entanto, que eu quis morrer pela primeira vez. 

Eu não via assim, na verdade. 

O sentimento era de querer sumir. Deixar de existir. Sendo o óbito, basicamente , seu sinônimo. 

Motivos? Eu juro que eu tinha. 

Era muito jovem para passar por isso. 

Eu quis um jeito diferente de morrer, enquanto, inconscientemente, suplicava a morte. 

Aí foi onde eu precisei sobreviver pela primeira vez. 

Anos se passaram e fui vivendo bem. 

Só que na adolescência, foi difícil. 

Eu descobri outras formas de querer o extermínio. 

Eram mais situações que eu não deveria passar, misturadas com desespero e tragédias.

Você deve estar pensando em dramas adolescentes. Cheios de exageros de uma pessoa com pouco tempo de vida. 

E eu gostaria de, nesse instante, olhar no fundo dos teus olhos e lhe dizer que tudo foi apenas um grande drama. 

Mas aprendi que mentiras desse tamanho te assombram a noite.  

Ainda acredito que fui forte muitas vezes nesse período. Porém, efetivamente, foi onde eu mais quis a inexistência.

Superando qualquer expectativa, eu consegui deixar isso para trás...

...

Tudo bem. Isso é uma falácia. 

Nada foi deixado para trás. 

E eu nunca fiz terapia para superar. 

Arrisco dizer que talvez tenha apenas fingindo que nenhum desses problemas de fato tenham existido. 

... 

Mas, enfim. 

Mesmo assim, eu comecei a entender que o perecimento não resolveria nada. 

Na verdade, resolveria. 

Mas apenas para mim. E essa não é a questão. 

Eu sumiria juntamente com cada pedrinha de dor. Deixaria, contudo, pedras enormes para quem ficasse. 

E mesmo que viver seja um fardo que, muitas vezes, eu já desejei não carregar. Não posso resolver pesando o fardo daqueles que me amam.

Então, a força, eu aprendi a viver.

Aprendi a não querer o decesso. 

Eu resolvi tentar por todos aqueles que me sorriem de volta e estão do meu lado, para, às vezes, carregar um pouco desse fardo comigo. 

Vivi bem por um tempo. 

Busquei soluções melhores. Passei por momentos incríveis. 

Enchi alguns de orgulho. 

Decepcionei outros. 

Passei por tempestades. 

Busquei a resiliência. 

Fui feliz. 

Fui triste.

Amei. 

Me machuquei. 

Vivi a vida como ela é. 

Mas hoje. Nesse momento. Enquanto você lê cada uma dessas linhas. 

Imagine que o meu fardo desabou.

E eu não sei se quero carrega-lo de novo.



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